OS ROSTOS DOS OUTROS
texto + imagem A. Rafael da Silva
os rostos dos outros, todos esses outros que os meus
olhos viram,
continuam a aparecer-me
quase sempre indistintos da
paisagem
pequenos relevos ténues e belos,
cénicos,
técnicos, bem integrados, ilusórios
como se dela tivessem sido delicadamente extrudidos
apenas pelo gozo infantil de me virem
confundir
a percepção dimensional, temporal
e se algo neles se agita
logo desejo converter-me
em paisagem,
para nada perder da sua
transformação
atormenta-me então a ideia de que
o recuo da luz sobre eles,
(como o deslizamento das sombras que
tombam do céu sobre o mato seco dos baldios)
inicie o desmedramento do detalhe
que um dia me espantou
inaugure o apagão
mas a noite vem para lembrar que há um certo
tipo de luz,
um certo tipo de brilho, que brilha melhor no escuro
um certo tipo de brilho, que brilha melhor no escuro