NO FIM DA TARDE
texto + imagem A. Rafael da Silva
O silêncio,
quando me responde, é tão erodente como uma pedra mastigada em diligência. E
quando os olhos do silêncio me levantam no ar, o meu peso é o extraordinário peso
de uma casa meio erigida meio derrocada. Assemelho-me ali, fora de mim, a um
incenso de queimar batido desordenado em retirada, disfarçado de coreografia. Suspenso
no fim da tarde. A tempo de todas as cartografias de afeição terrorista, a tempo de tudo e de nada. Mas esta fisionomia
sem vocação para subir, apenas para enganar os dias pela experiência de um
tédio que não mata, detém-me no plano dos aspirantes a um dia a mais no paraíso
que não é longe disto, que não é longe daqui. Passada a passada tropeço de ternura no
tempo, tropeço de ternura por ti. Registo inobservante e com desídia que um dia
também tu partirás silencioso, como todos os outros, e eu terei de mastigar o teu
silêncio.