BISA

texto + imagem A. Rafael da Silva


em tempos houve ali videiras que pude chamar de minhas

minhas meninas mancas e enrugadas com os seus cachos solares

ensaiando poses qual Fonteyn a partir do chão junto à presa

apesar da cota, apesar da idade

 

e houve vindimas, gigas de uva,

caminhos trôpegos em caixa aberta

coração aberto

tranças castanhas e pernas rosadas

sonhos partilhados entre braços

bem amarrados à fermentação

 

em tempos fui feliz com o que a terra me deu

assisti a todos os seus ciclos

e aproximei-os um a um dos meus olhos ainda verdes

 

comi a fruta dos bolsos do meu vestido, manchado,

e festejei com a bisa o armazenamento das colheitas,

o trabalho visível nas dobras do campo,

as canções das mulheres à jorna, a ascensão dos fumos

a consolidação do inverno gelado

 

no silencioso e frio corredor, os olhos dela 

apontando-me o som do teu trompete ausente

e a inexistência do medo

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