CORPO DE MARÉ

texto + imagem A. Rafael da Silva


os dentes apodreciam-lhe espontaneamente
prematuramente
desfigurando o grito
enquanto se espraiava soluçante
sobre o rumor dorido da espuma que encharca a terra

o sargaço seco apartado dali
inspirava-lhe sempre imagens de um lugar mais fundo e silente
onde a morte tinha qualquer brilho de cinema mudo
e as sirenes e os guindastes, as aves da costa, todos envolvidos
nos castanhos escorregadios em redor do corpo muito pálido
em aprofundamento voluntário
os ouvidos inundados de peixinhos
o cabelo mal escalado pela força da corrente
e arremessado contra todos os sonhos que adiou

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